Jovens das bandas de rock e rap foram os precursores da revolução que hoje balança o mundo árabe
BERLIM - Pouco antes do início da reação em cadeia no mundo árabe, o cientista político Arian Fariborz, alemão descendente de iranianos, lançou um livro que já previa a mudança política pressionada pela insatisfação da juventude. "Rock the Kasbah - Popmusik und Moderne im Orient" (publicado pela editora Palmyra em dezembro último) conta como os jovens das bandas de rock e rap foram os precursores da revolução ao expressarem o protesto que mais tarde foi às ruas. Fariborz, de 42 anos, afirma que as músicas de rock e rap do mundo árabe, mais do que qualquer outro fenômeno, expressavam o clima potencial de revolta, resultado de uma tendência que começou já nos anos 90.
- A primavera árabe foi possível através do inconformismo dos jovens que cresceram em um regime de falta de liberdade de expressão e falta de perspectiva material - diz.
Uma das bandas que começou os protestos através da música foi a "Brain Candy", do Egito. Como conta o guitarrista Karim Kandeel no livro, a música pop não era apenas divertimento para os jovens, como ocorre no Ocidente, mas puro protesto pela frustração no "tempo de chumbo".
- A música pop era como uma catarse coletiva no mundo árabe - lembra Fariborz, que para escrever o livro percorreu toda a região e teve contato com as mais expressivas bandas.
Segundo Fariborz, o movimento pop surgiu já nos anos 80 na Argélia, de onde saiu para conquistar jovens de toda a região. No início, popular era o "rai pop", um estilo próprio para expressar a opinião da juventude, como na banda "Cheb Klaled". A música era uma expressão da autolibertação e, por isso, vista pelo regime autoritário como uma ameaça. Muitos músicos foram presos e assassinados.
Uma das pioneiras na Argélia foi a banda Bab el Qued, primeiro grupo de hip hop do mundo árabe. Outra, MBS, reclamava da continuação da "tragédia argelina". Com a popularização do rai, os músicos descobriram o hip hop como uma forma de expressão. Inspirados nos negros do EUA, que expressavam com a música o sentimento de vítimas da segregação social, jovens da Argélia, Tunísia e Líbia começaram a usar esse estilo para protestar.
- Da Argélia, o movimento hip hop começou a expandir para a Tunísia, Líbia e Palestina, sendo hoje muito popular em Gaza - diz o autor.
No caso da Tunísia, o papel da música na Revolução do Jasmim foi fundamental. O cantor El General (nome artístico de Hamada Ben Amor) contaminou a juventude do seu pais via Youtube e Facebook com uma música que dizia "Senhor presidente, o seu povo está morrendo" e virou uma espécie de hino dos protestos que levaram à queda do regime de Ben Ali.
Também o egípcio Karim Kandeel, de 23 anos, fala nas suas canções sobre o "sentimento de estar na prisão" que marcava sua geração até a explosão dos protestos nas ruas do Cairo. Fariborz não menciona no livro bandas da Líbia, mas ressalta que o protesto juvenil foi um alicerce forte da insurreição contra Muamar Kadafi.
- Num país onde 70% da população têm menos de 30 anos, uma ditadura de mais de 40 anos parece uma eternidade - comenta.
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